segunda-feira, 18 de abril de 2011

Capitão Planeta e Trauma de Hospitais



Estava passando Capitão Planeta na televisão. Eu gostava de assistir ao desenho do Capitão Planeta que passava  na Globo, na Sessão Desenho, que era depois de Mundo Animal.
Eu tinha uns 5 anos mais ou menos, minha mãe estava terminando de colocar o almoço. Meu pai lia o jornal. Aí o desenho acabou e eu resolvi mostrar pra eles como é que eu era o Capitão Planeta.
Amarrei a toalha de banho no pescoço como se fosse minha 'capa de voo' , juntei duas cadeiras então subi no espaldar de uma e me equilibrando pisei no espaldar da outra. Minha mãe vinha chegando com uma travessa de estrogonoff na mão quando me viu gritar:
-Pela união dos seus poderes eu sou o Capitão Planeta!!! (doido pra ouvir meu pai e minha mãe gritarem: Vai Planetaaaaa!!  rsrsrs)
Mais não foi isso o que aconteceu...
O que se seguiu foi algo tenebroso. Eu despenquei das cadeiras. Uma delas caiu em cima de mim e com a quina fez um baita dum corte na minha testa. Eu não me lembro bem do que aconteceu na hora, só de ter aquela sensação de arrepio na espinha que era comum quando eu fazia merda e pensava que ia apanhar.
Mas para meu espanto, a voz da minha mãe não era aquela voz de quando ela estava brava, era uma voz de preocupação, de desespero. E isso só significava uma coisa: Eu DEVIA abrir o bocão e chorar o mais que pudesse. A voz dela era a minha garantia de que aquele sim, era o momento certo de colocar a boca no mundo.
Eu me lembro que ela jogou uma fralda do Rafael na minha cara e em menos de um minuto eu estava com um pano encharcado de sangue na cara. Isso dizia pra mim que chorar não era o suficiente. Eu devia dar um pití inacreditável.
Pra piorar, meu pai estava sem o carro. Eu estava no colo dele, meu pai e minha mãe correndo pelas escadas da casa em direção a rua. Falaram algo sobre o vizinho.
O vizinho era um cara que tinha um dálmata enorme. Isso era tudo que eu sabia sobre ele.
Chegamos no hospital, e eu não me lembro mais. Daí rola um bloqueio igualzinho aqueles de quem é abduzido por aliens olhudos.
O que eu sei é o que minha mãe conta. E o que ela conta é que correu um monte de medico para me atender. Era um corte na testa, não muito profundo, mas saía uma sanguera de dar dó.
Pra quê este bisturi tão grande?
Eu berrava e gritava o quando podia. Do nada um dos medicos tentou me segurar. Eu comecei a me debater, achando que eles iam me machucar. Então um ão foi suficiente. Veio outro, e estes não deram conta. Foi chegando mais e mais gente, enfermeiros, auxiliares, maqueiros, meu pai, no fim das contas, minha mãe diz que eram seis pessoas mais o meu pai para segurar um bacuri de 5 anos em completo fenesi.
Minha mãe conta que eu xinguei “bunda”, “cocô”, “piroca”, e toda sorte de nomes feios que eu sabia. Quando acabou meu limitado repertório, comecei a mixar novos palavrões.
Ela diz que viu com o coração apertado que eu fui gradualmente perdendo as forças ante a multidão que me segurava para o médico de plantão dar pontos na minha testa.
Daí veio meu medo de hospital.
Minha memória seguinte só voltou quando eu já estava em casa, me olhando no espelho. O corte na testa estava inchado e eu via os pontos costurados no espelho.
Naquele dia, eu descobri que não era o Capitão Planeta. Capitão Planeta era coisa do passado.
…Afinal, era muito mais legal ser o Frankenstein agora!!  kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...

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